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Você já assistiu uma prova de corrida com barreiras? 

Prestou atenção no nível de esforço que um corredor precisa impor para percorrer os metros de distância entre a largada e a linha de chegada? 

Agora, imagine a mesma distância sendo percorrida sem os obstáculos. Duas coisas acontecem: o corredor percorre a mesma distância em menor tempo e com menos gasto calórico. 

A metáfora da corrida com barreiras me serve de inspiração para abordar o tema da Diversidade Étnico Racial. Não só porque estamos em novembro, mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra, mas também porque não se pode mais perder tempo quando se trata de praticar a equidade, um dos pilares da Governança Corporativa. 

Equidade é sobre tratamento justo, imparcial e igualitário. 

Diversidade é a qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado. É o desconhecido, mas que nem por isso pode ser classificado como pior ou melhor. 

A diversidade nos tira da zona de conforto, provoca estranhamento, sensações incômodas, pois tendemos a não gostar do que não compreendemos. 

Contra fatos, não há argumentos. Diversos estudos comprovam que equipes diversas são mais produtivas, pois o diferente é desafiador e instiga a fazer melhor.  

Empresas que investem em programas de diversidade são mais lucrativas e tendem a gerar mais valor para os acionistas e investidores. 

A diversidade é provocativa, não é monótona, faz crescer pela busca incessante do consenso, do entendimento, da empatia, do anseio de encontrar soluções por métodos alternativos. 

A pluralidade não convive bem com a obviedade e, muitas vezes, para tomarmos as melhores decisões é necessário lançar mão de soluções criativas. 

Como obter isso num ambiente homogêneo? Voltamos à metáfora da corrida com barreiras. 

Em um mundo, no qual uns foram criados para “ser” e outros para “não ser”, sair de um polo para o outro é possível, mas prepare-se para consumir muita energia, tropeçar, cair, levantar e ao atravessar a linha de chegada perceber que a vitória não é uma miragem, entretanto você precisou empreender o dobro de esforço para obter metade dos benefícios. Mesmo assim, você chega feliz, pois conseguiu ultrapassar as barreiras que estavam no seu trajeto. No entanto, ao olhar para o lado você percebe que está sozinho, que todos que estavam correndo na mesma modalidade que você, ficaram pelo caminho. 

Ao seu lado, encontram-se muitos vencedores, mas que disputaram outra prova, com a mesma distância, porém a corrida deles era um pouco diferente, não haviam as tais barreiras. 

Eles são numerosos, são talentosos, você os admira e se inspira em muitos deles, afinal de contas estão nas revistas, na televisão, nas telas do cinema, têm sobrenomes pomposos, falam vários idiomas, inglês fluente, têm ótimos currículos com passagens por empresas globais, empresas das próprias famílias, estudaram nas melhores universidades, intercâmbios no exterior, frequentam os mesmos clubes, restaurantes, jogam golfe, tênis, padle e a tudo isso chamam Meritocracia. 

Cabe aqui uma explicação: Meritocracia é o predomínio numa sociedade, organização, grupo daqueles que têm mais méritos (os mais trabalhadores, mais dedicados, mais bem-dotados intelectualmente etc.). 

No livro Minha História, Michele Obama sentencia: Claro que isso é possível – a todo momento estudantes desfavorecidos e que fazem parte das minorias mostram que são capazes de superar desafios – mas consome energia. Consome energia ser a única pessoa negra em uma sala de aula ou uma das poucas não brancas fazendo teste para uma peça ou para entrar na equipe da faculdade. É necessário se empenhar, reunir uma dose extra de autoconfiança – para se pronunciar nesses ambientes – e assumir a própria presença na sala. 

Como negra, busco minhas referências no talento de Lewis Hammilton e Serena Williams, no carisma de Barak Obama e Kamala Harris. Leio Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Michele Obama, Chimamanda Ngozi Adichie, Maya Angelou, assisto os filmes do Spike Lee e me inspiro nos modelos de gestão protagonizados por Rachel Maia e Bozoma Saint John, já que esses correram a mesma corrida que eu, ou seja, os duzentos metros com barreiras, venceram, e mostram ao mundo, na prática, o que é a verdadeira Meritocracia. 

Portanto, se desejamos de fato uma sociedade mais equânime e igualitária devemos nos apressar em promover ações inclusivas, adotando fórmulas eficientes de derrubar essas barreiras estruturais, muitas vezes, invisíveis, que estão impedindo pessoas talentosas de competir em igualdade de condições ou que, quando conseguem romper as barreiras, chegam cansadas e traumatizadas pelo excesso de hipocrisia de uma sociedade míope, que prefere fazer de conta que não percebe o que acontece, e a cada ano tenta reproduzir o discurso de que consciência negra e consciência humana são sinônimos. 

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Ana Tércia L. Rodrigues

# Contadora, # Mestre em Administração e Negócios (PUCRS) # Professora Universitária (UFRGS) # Presidente do CRCRS # Membro da Academia de Ciências Contábeis do RS # Conselheira Fiscal da ONG Parceiros Voluntários # Mentora, Palestrante, Escritora

Um comentário

  • JOSE CLAUDIO DE SANTANA disse:

    Cada dia um trajeto diferente. Sempre aparecendo uma barreira a mais, olho e vejo meu tempo acabando, minha mocidade já não é tão ativa. Da juventude, ainda me resta um pouco da rebeldia, da vida adulta, uma boa dose de revolta. Quero ajudar a transpor as barreiras do cotidiano a quem se mostrar interessado, mas não vou procurar por mais ninguém. Ainda encontro barreiras, coleciono barreiras não transpostas, me arrasto, sigo em frente, quedas, tropeços, vários arranhões e até traumas e traumatismos. E já ao me levantar pela manhã, a barreira dos ” só mais cinco minutinhos”, na tv no noticiário da manhã, o atraso na condução para o trabalho, barreiras cotidianas que se acumulam e fazem parte de um dia normal. Mas, aos 53 anos, cursando faculdade de educação física, ex-atleta, treinador de lutas, trabalhando em associações esportivas que prestam serviço ao município com jovens de periferia onde barreiras sociais, físicas e morais, são parte de uma rotina de sobrevivência do indivíduo. Vou tentando, faço o que posso, tendo como maior recurso disponível, as inúmeras barreiras do passado e do presente como bagagem que atestam minha experiência , meu altruísmo, meu compromisso. A corrida com barreiras é uma metáfora de um cotidiano de uma pessoa que tenta conquistar a meritocracia através de seus próprios esforços.

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