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Esta é uma reflexão sobre o que estamos vivenciando em plena pandemia, mas também sobre o inesperado em cada um de nós. Sim, porque cada um de nós guarda uma imensidão de surpreendentes incógnitas. Como reagimos diante do imprevisto? Quando temos tudo planejado, calculado cheio de certezas inabalavelmente confortáveis e, de repente, somos nocauteados? 

Há alguns anos, sofri um assalto a mão armada quando saia com uma amiga de um café, às 10 horas da manhã de um lindo sábado ensolarado. Tinha certeza sobre qual seria a minha reação em um momento destes.

Entregar tudo, abaixar os olhos e vida que segue sem os bens materiais que, com certeza adquiriria depois. A minha reação? Pois então. Não entreguei a bolsa (que tinha poucos bens) e ainda assumi uma posição inflexível junto aos dois criminosos armados, revoltada, impotente pela violência que estava vivenciando.

Felizmente, eles se assustaram com o movimento da rua e saíram levando o carro e os pertences da minha amiga. E eu, me mantive agarrada na minha bolsa, entre um misto de revolta e pânico com a violência sofrida e muito, mas muito assustada com a minha própria reação. Minha dignidade estava na posse daquela bolsa. Eu estava em um momento de máxima tensão e agi de uma forma irresponsável e temerária. Foi automático. Foi incontrolável. Foi irracional.

E você, como reage diante do inesperado? E quando este inesperado vem acompanhado do caos? De uma pandemia?

Pois bem, não podemos ter certeza da nossa reação quando o imponderável assume as rédeas da situação. Nossas regras são colocadas à prova. Neste momento, sentimentos, medos e certezas tomam proporções e hierarquias diferentes e muitas vezes desarmônicas.

Este episódio do assalto retornou a minha mente quando comecei a refletir sobre como estou reagindo ao isolamento espacial. Lembram das certezas? Pois então, explodi a maior parte delas. Algumas estão seguras, perto de mim como aquela bolsa que manteve a minha dignidade. Mas estou disposta a explodi-las também. Estou, humildemente, aprendendo a ser mais flexível.

Lutei, mesmo impotente em manter o status atual, mesmo sabendo que tudo está e será ainda muito, mas muito diferente. Hoje sei que este isolamento será o que eu fizer dele. E definitivamente, ele será transformador, principalmente porque estou me permitindo repensar certezas.

Não é fácil, não é simples. Porque as certezas são confortáveis e sedutoras. Mas também perigosas e asfixiantes.

Paralisam nossas ações e sentimentos diante do novo. Do novo necessário. Do novo oxigênio. Tenho medo dos túmulos travestidos de certezas. Eles nos enterram vivos. Em meio ao caos, experimentei voltar para o essencial, ao que me fez historicamente encontrar a minha serenidade e fui de novo, mais uma vez trilhar em frente.

O que traz serenidade a você? Permita-se cair. Permita-se chorar e colocar em dúvida as escolhas até aqui. Não para lamentar, mas para definir os próximos passos. Pode ser um novo caminho sim, por que não? Mudou tudo? Paralisou? Recalcula a rota novamente porque sempre existe uma forma.

Não tenho uma receita, mas posso dar uma dica, sobre onde encontrar o ponto de partida: dentro de você mesmo, soterrado embaixo de todas as certezas

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Letícia Batistela

Advogada, com mais de 20 anos de experiência no setor de TI, é apaixonada por inovação e ainda mais por concretizar ideias com foco em resultados, sejam eles econômicos ou sociais. Pós graduada em Gestão de Negócios pela FDC, Direito Empresarial pela FGV e fez parte do Programa de formação de Conselheiros/PDC da FDC. Em 2018 e 2019, foi indicada como um dos 500 advogados mais admirados do Brasil, segundo publicação da Revista Análise Editorial, que ouviu Diretores e Gerentes de Departamentos Jurídicos de empresas. Atualmente preside, em Porto Alegre, a Empresa Pública de Tecnologia da Informação e Comunicação – PROCEMPA. A busca por aprender com os grandes e aprofundar seu conhecimento concreto, a fez atuar em entidades associativas do setor de tecnologia, sendo Diretora Jurídica da SUCESU, VP Jurídica da Federação das Empresas de Tecnologia/ASSESPRO, após exercer por 2 anos a Presidência da Assespro/RS. Participou da diretoria de várias entidades e atualmente faz parte do Conselho de Administração da PROCEMPA e PROCERGS. É Diretora da FEDERASUL, além de coordenar a Divisão Jurídica desta entidade. Sua aproximação com a Mentoria ocorreu através do WLM, Women in Law Mentoring Brasil, onde é membro fundadora.

12 Comentários

  • César Leite disse:

    Show Letícia

  • Marta Coelho disse:

    Ótima reflexão sobre as incertezas do momento. Me trouxe alívio sobre alguns sentimentos. ❤️

  • Claudia disse:

    Mto bom! Reflete sobre o q estamos vivendo e sjuda no sentido de dar nome a estes sentimentos ainda inomináveis!!

  • Neusa Galli Froes disse:

    Muito bom Leticia, sinto que este isolamento tem nos aproximado de nós mesmos, tem nos ajudado a refletir sobre nossa fragilidade e está nos mostrando que é fundamental simpatizarmos com o improviso.

  • Deborah Villela disse:

    Adorei Letícia. Beijão .

  • Debora disse:

    Neste momento de incertezas, a única certeza é que sairemos diferentes quando tudo passar! Muito bom o texto! Grande beijo!

  • Jussandra Hickmann disse:

    Excelente reflexão neste momento de total falta de “controle” e “certezas” em nossas vidas.

  • Cristian Cavalheiro disse:

    Já está te transformando amiga.

  • Carina Franceschini disse:

    Ótimo texto para reflexão. Realmente as incertezas são muitas de como sairemos desta. Em vez de me afundar em pensamentos, estou materializando desejos que estavam guardados para o pós- carreira .

  • Vera Martini Wanner disse:

    Bela reflexão. Agora estamos vivendo uma situação extrema, mas se avaliamos bem, vamos ver que nada é constante na nossa vida. Este momento forçado de isolamento poderá servir para nós acostumamos com essa ideia, sem pirar!

  • Gabriela disse:

    Ótima reflexão. Incrível como essa reduzida no ritmo nos força a repensar nossas metas e relembrar o que é essencial.

  • Fernanda Rosália Neves Gonçalves Cabral disse:

    O isolamento social que a pandemia nos trouxe me traz revolta e pânico. Me traz pânico pelo medo de que essa doença ataque os meus. Me traz revolta pelo cerceamento da minha liberdade de ir e vir, pois a conquistei tarde. Eu consigo ter o discernimento de entender que é para um bem maior, mas me permito sim colocar em dúvida as escolhas que tive até aqui, e me permito ficar frustrada. Ficar isolada não está sendo fácil, mas tento manter minha sanidade e serenidade, na medida em que entendo que sou privilegiada em poder ficar em casa.

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